sexta-feira, agosto 10, 2007

Pai


Tenho poucas histórias com meu pai, as que tenho foram contadas para mim ou são alguns fragmentos que ficaram guardados, não entendo bem por que.
A história de amor de meus pais é feita de um acaso. Minha mãe, veio para São Paulo muito cedo, com quinze anos para trabalhar de doméstica. Naquela época era muito fácil se arrumar emprego, bastava você se apresentar e já estava empregada. Num desses empregos, a patroa de minha mãe a acusou de roubo e simplesmente no meio da noite a mandou embora, sem lhe pagar nada. Minha mãe, então, totalmente só, saiu pela rua chorando, nisto havia um casal em um taxi, que lhe perguntou o que havia acontecido, ela lhes contou a história e lhes disse que não tinha para onde ir. Eles lhe ofereceram lhe levar para um hotel, bom, isso não foi lá muito fácil, minha mãe era menor de idade, os hotéis não aceitavam menores, bem, onde minha mãe foi parar, no hotel onde meu pai trabalhava, minha mãe, disse que meu pai era muito carrancudo,disse "fica ai". Minha mãe ficou essa noite, voltou tantas outras em que ficou desempregada, foi ficando até que eles foram ficando juntos e aí eu vim ao mundo. Minha mãe disse que quando perguntou para o meu pai que nome iam me dar ele disse "ah, Sebastiana, Benedita, bom ainda bem que minha mãe foi mais sensata e me deu o nome de Cristiane.
Minha avó me contava, que meu pai, quando voltava pra casa depois de uma noite trabalhada, me colocava no colo para almoçar com ele, bem eu enfiava a mão no prato dele, minha avó queria me tirar e ele dizia" Deixa, deixa". Uma vez, acho que dormi junto com ele, e simplesmente "descobri" o cigarro no seu bolso e claro, enfiei tudo na boca e mais cuspi do que comi, ainda bem...Uma história que meu pai gosta de me contar é que eu pequetita, de perninha grossa, ele me mandava ir buscar pinga no copo (nada educativo isso), mas...(rs), lá vinha eu, tombando, deixando mais cair a cachaça do que trazer e aí meu pai me dizia, "ei filha, cuidado", aí eu dizia "é pro Santo pai", menina sabida de vocabulário de boteco, também pudera, meu pai vivia comigo nos botecos que ia, eu adorava tomar a espuminha da cerveja dele, uma vez minha mãe me contou que meu pai jogava sinuca e eu queria participar do jogo, tirei uma das bolas, ai pra que, levei uma tacada no popo...mas cê acha que não ia contar pra minha mãe, e ai eu começava assim "Sabe mãe, o pai, parou com o carro e lá vinha os detalhes.Lembro dele me levando para a escola de fusca branco, me dando dinheiro para voltar de ônibus, ele me levando para passar uns tempos na casa dele e eu futricando coisas para a mulher dele. E isso me faz lembrar o dia em que ele ia se casar, minha mãe coitada, pediu para minha avó me levar até ele, acho que com a esperança que ele desistisse de casar e eu sem saber direito porque chorava, chorava...e ele foi. Até hoje,sempre que encontro meu pai, tenho a sensação de despedida,um aperto, do que poderia ter sido, ter tido meu pai sentado à mesa com a gente, me acompanhando nos estudos, ou simplesmente aqui com a gente.Tenho 2lembranças de nós três juntos, eu, minha mãe e pai,pequenininha, quando fomos ao zoológico e ele me comprou uma sombrinha de papel, que no mesmo dia destrui abrindo ela na chuva e aos meus quinze anos, na sala de casa, ele tirou um saquinho com uma corrente e pulseira de prata me entregou dizendo que para ele eu ainda era a sua menininha e nós três choramos feito criança.
Sabe Pai, eu tenho muita saudade de você, é uma saudade que não entendo bem,se é do que foi, do que seria, eu tenho um amor muito grande por ti, nesse dia, não pude te abraçar,não pudeencostar minha cabeçano seu peito para receber seu cheiro ( é o cheiro mais gostoso do mundo, que me traz o nordeste inteirinho), nem mesmo pude ouvir sua voz, mas sei que você está aí, está aqui em mim, nos meus traços, naquilo que você me deu...ah Pai, TE amo muito, muito mesmo. Esta foto tiramos na primeira posse do Lula...sou grande, mas ainda sou menina quando estou perto de ti!

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