quinta-feira, maio 29, 2008

Muitas coisas a escrever, no entanto...

Tantas coisas se passando em minha cabeça, no entanto, uma preguiça, essa seria a palavra correta? Neste momento, ela serve.
Preguiça de pensar demais, pensando demais, guardando, pra sei lá quando, falar ou escrever.
Mas nesse momento em que o tempo é de espera e as horas são sozinhas e não solitárias, olho pela janela e é como se a vida estivesse correndo diferente, vejo as janelas do prédio em frente ao meu e parece um prédio fantasma, ninguém nas janelas, olho as outras casas e as janelas completamente fechadas. Olho a avenida ao longe, os carros andam em silêncio, pelo menos aqui.
Cai uma chuvinha fina lá fora, o silêncio é total, as crianças ainda não chegaram da escola, mas ultimamente até elas andam brincando silenciosamente.
Lá longe, longe talvez haja vida. Mas há vida aqui comigo, só não tenho coragem de mexer com tantas coisas que vêem ao meu pensamento.
Quero coragem para pensar, para escrever, para pesquisar, para entender, ou quem sabe desentender.
O que importa neste momento é que fuçando em arquivos antigos encontro um conto escrito para as aulas como aluna especial no Curso de Russo, eu leio e ele me é tão estranho e tão meu. Ah, eu gosto de escrever, mas sinto que preciso da paixão para escrever, a paixão por algo que vi, vivi, que senti, a paixão das lágrimas correndo por meu rosto.
Vi o filme do Vinícius, e lá dizem que ele se casou 9 vezes para não perder a inspiração, ele só escrevia por paixão.
Bem, para recomeçar, acho que já escrevi por demais. Então recomeçando com "O Casamento"



O Casamento
Sentado no escuro, ouvindo rumores que viam de fora, eu ali, esperando o momento que diziam ser o mais importante de minha vida.
Deitei-me em minha cama, procurava em minhas memórias, lembranças que trouxessem essa certeza, de que eu iria ser Feliz.
Tudo acontecera tão rápido, que ainda não havia respondido nem sequer a primeira pergunta " eu realmente quero me casar?"
Eu a conhecera na faculdade, entre olhares, livros e convescotes, e então o olhar.. Aquela menina, ah, morreria por um olhar seu... e assim passaram-se os anos de faculdade, e o que restava casar-se...
Ah, mas não, quem casa quer casa, início de carreira, jornais, entrevistas, um bom trabalho, também quem sabe um mestrado e claro o doutorado. Casar? Sim, primeiro a casa. Ela o admirava e apoiava em tudo, não tinha pressa, os pais sim, o sogro sempre me olhava e dizia "E então Sr. Marcos quando sai o casamento? Eu um pouco desconcertado, sem muito o que dizer .. "Breve sogro, breve", e o breve foram os 5 anos de faculdade, mais um ano para acertar minha carreira, ganhar algum, e investir em nossa casa.
Terreno, pedreiro, tijolo, cimento, sorriso de Lara, como ela me olhava como uma criança, esperando por minha mão a segurá-la, a aconchegá-la, e meus sonhos passaram a ser os dela.
Casa pronta, ah, sim agora a mobília, tudo do jeitinho de minha Lara, ela me perguntava está do seu gosto? E eu meio distraído tentando entender tudo aquilo, dizia sim, claro. Mobília comprada e agora? Lara me olhava perguntando e esperando uma resposta: "Lara, acho que precisamos de um carro", ela com um olhar desiludido, perdido como criança que se tira um brinquedo.. "Sim, sim....
Devidamente motorizados, eu prosseguia, sem muitos planos tinha Lara que me amava, tinha seu aconchego, tinha minha casa, tinha, tinha, que mais poderia ter?
Lara me olha, olhamos juntos para tudo olhamos para trás e ela me pergunta? O que falta? E eu digo: falta? E então ela me lança aquele mesmo olhar, das aulas, posso até ouvir os rumores dentro da sala de aula, mas eu continuo perdido no meu silêncio, aquele que apenas ressoou uma coisa "é ela".
Penso tenho tudo, tudo, e não precisava de nada disso, apenas viver, quem sabe no subsolo, quem sabe no céu, mas tenho Lara. E assim a pedi em casamento. Mais um ano para os preparativos do casamento, festa, vestido, roupa de noivo, viagem de Lua de Mel, padrinhos, ufa, será que sobrevivo até o final..
E agora estou aqui, nesse escuro, viajando, ainda perguntando? Amo Lara, preciso casar? Todos assim esperam... olho para minha roupa devidamente passada em cima da cadeira, preciso me vestir, assim disseram está quase na hora e o noivo nunca se atrasa... de repente, vejo que nunca saí da linha reta da vida, nunca entrei por nenhum desvio, e então por que não uma única vez...
Abro a porta, meu coração dispara e num instante me sinto leve, acho que poderia até voar, todos me olham e não entendem nada ouço gritos "aonde você vai?"
Entro no carro e o caminho, é como um tutor, eu sou livre, deslizo, e meu coração bate no mesmo compasso como se saltasse junto com minha alegria.
Paro em frente à casa de Lara, corro, e ela de véu e grinalda, ainda nos preparativos finais, eu pergunto "você me ama Lara?" E ela assustada de testa franzida: "amo". A pego no colo e corro pro carro, ela não entende nada, mas me segue, e eu lhe digo, a gente tem todo esse dia, a gente tem toda a vida, nesse dia, nessa noite, nós somos nós e não precisamos de mais nada e depois, depois a gente tem "alguma" coisa.