sexta-feira, agosto 17, 2007

Metrô, Leitura e algumas coisas mais...




Gosto de cantar no metrô, gosto de me maquiar as vezes no metrô e de ler também.
Maquiar e cantar as vezes causa certo estranhamento, principalmente aos paulistas certinhos, é muita contravenção! Talvez, talvez.
Ler no metrô já não causa tanto estranhamento, ainda bem.
Como disse no post anterior estou lendo Clarice Lispector Uma aprendizagem ou o Livro dos Prazeres, quem conhece Clarice sabe de sua complexidade, é pra ler, pensar. Me perguntaram o que estava achando do livro, respondi: Clarice é clarice...(rs).
Tenho descoberto, que a leitura depende do momento que vivemos, as palavras que nossa alma precisa saltam aos olhos, não são sempre as mesmas, numa segunda ou terceira ou tantas outras leituras.
Explico, quando li algumas páginas há um mês atrás,li com outro olhar, outras palavras me saltaram, hoje lendo, quase chorei, será que é permitido chorar no metrô? Confesso que já chorei algumas vezes, se alguém viu, disfarçou bem, lágrimas desconcertam não é mesmo, principalmente aos estranhos.
Coloco o trecho, muito mais para mim, para que não me esqueça dessas palavras, que pularam das páginas e fixaram-se em mim, na minha pele, feito aquele matinho que gruda na roupa,carrapicho, dizem que a idéia do velcro nasceu dessa plantinha.
Lóri: Não, não devia pedir mais vida. Por enquanto era perigoso. Ajoelhou-se trêmula junto da cama pois era assim que se rezava e disse baixo, severo, riste, guaguejando sua prece com um pouco de pudor: alivia minha alma, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar não é morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão de que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para pertar a minha, amém. (pág,56)

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